sábado, 2 de julho de 2016

CINE LÍBERO - 30 ANOS



CINE LÍBERO - 30 ANOS
Eu fui o primeiro programador do cinema Libero Luxardo(Centur). Na época era médico da Secretaria de Saúde e fui emprestado para a Secretaria de Cultura. Lembro de que a sala inaugurou com um documentário sobre Tancredo Neves politico que deu nome ao espaço cultural. O nome da sala para exibição de filmes (e também teatro) veio do então Secretario de Cultura, Acyr Castro. Como nesse tempo(1986) eu ainda mantinha o CineClube APCC que atuava simultaneamente no Cine Guajará da Base Naval, Grêmio Português e auditório do Curso de Odontologia da UFPa, conseguia bons contatos com as distribuidoras de filmes. Não existia dvd, engatinhavam as fitas vhs, e projeção digital era ficção cientifica. Pagava frete de filmes em 35mm . Às vezes o frete aéreo era mais caro do que o aluguel do filme., Mas como eu tinha credito nas filiais de distribuição e ainda mantinha coluna e pagina de cinema, dava para manter sessões cineclubinas que normalmente saiam de meu bolso. Programando o Libero, arrisquei meu prestigio, pois o pagamento das faturas era burocrático, atrasava e ainda tinha de cancelar títulos que entravam na programação de peças teatrais, fato que me fez renunciar a tarefa de programador dois anos depois.
Lembro de muitos filmes exibidos nos primeiros anos. Conseguia copias que as salas comerciais não queriam, como “Crimes e Pecados” de Woody Allen, e conseguia mostras de diversos países, a exemplo de uma da Polônia que contou com a presença do adido cultural da embaixada daquele país chamado Eugeniusz Zadusrski.
Bem, dos meus anos programando o cineminha que levou o nome de uma pessoa que eu conheci de perto, lembro com emoção momentos como um festival da Atlântida que consegui diretamente com Severiano Ribeiro em raras copias de 35mm. A abertura com uma palestra de Olavo Lira Maia, que foi Secretario de Cultura e amigo da família de Oscarito, foi sensacional. Um grupo de teatro armou a cena de um carnaval atirando no publico confete e serpentina.
Exibi raridades como “Berlim Alexanderplatz” de Fassbinder, dividido em partes que cobriam mais de 8 horas. E atendendo a estudantes, programava filmes de livros solicitados no exame vestibular como “Menino de Engenho”e “Capitu”. Era tanta gente que houve um acidente quebrando-se a porta de entrada.
Hoje a sala comemora 30 anos. O programa que recebi não é nem de longe o que se mostrou. Penso que do grupo só estão “Vá e Veja” e “Morte em Veneza”. Mas é certo que se deve passar coisas novas. Vale o esforço mas vale principalmente a programação de rotina que traz o que as nossas salas comerciais desprezam. Agora com projetor digital a locação é mais tranquila embora as distribuidoras, sempre ávidas por lucro, cobrem uma garantia mínima da venda de ingresso que muitas vezes só se paga com dinheiro da casa. Enfim, é o espaço de cinema-cultura que a não chega às salas de shopping, cada vez maiores em numero e sempre lembrando onde estão, ou seja,um detalhe de consumo, ou um parque de diversões.
Luxardo ficaria satisfeito vendo o cinema que leva o seu nome persistindo por 30 anos. Que somem outros tantos e tantos são os meus votos. (Pedro Veriano)

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