domingo, 5 de junho de 2016

JODIA FOSTER POR TRÁS DAS CÂMERAS



Vivendo as experiências do cinema e de séries de tevê desde os anos 1960, Jodie Foster tem, em sua cinebiografia, atividades de atriz, de produtora, roteirista e diretora, sendo que em alguns desses trabalhos ganhou prêmios entre os quais dois Oscar – por “Acusados (1988) e “O Silêncio dos Inocentes (1991).
Como diretora comparece com quatro títulos, estreando em “Mentes que Brilham” (Little Man Tate, EUA, 1991), seguindo-se “Feriados em Família” (Home for the Holidays, EUA, 1995), “Um Novo Despertar” (The Beaver, EUA/Emirados Árabes, 2011) e o atual, “Jogo do Dinheiro”(Money Monster, EUA, 2016), ainda em exibição em Belém.
Apresentado no 69º Festival de Cannes, em maio de 2016, o filme tem um texto interessante em que o suspense e a crítica dialogam no tema que explora: o papel do âncora de um programa de televisão, Lee Gates (George Clooney) tratado como o “mago das finanças” do programa Money Monster cujo conhecimento é visto na perspectiva da certeza do jogo no mercado financeiro, estimulando os/as telespectadores a investirem nesta ou naquela empresa que ele aponta como segura. Sua auxiliar é a diretora de TV e produtora do programa, Patty Fenn (Julia Roberts) cujas atitudes decisivas repercutem nas posições do âncora frente às câmeras. Principalmente num momento trágico com a entrada em cena de umoutsider, Kyle Budwell (Jack O’Connell), que de arma em punho obriga o apresentador a vestir dois coletes com explosivos exigindo saber as artimanhas desse mercado que explodiu como uma bolha levando 800 milhões de dólares dos investidores e onde se achavam as economias do jovem. A justificativa do mercado é uma suposta falha dos computadores da tal empresacomandada por Walt Camby (Dominic West). Embora a emissora queira recolher-se para tratar do caso entre bastidores, o outsider precisa que a sua ferida seja escancarada e venha à tona a verdade sobre os responsáveis pela crise que submete milhares de pessoas. E prosseguem as cenas entre o sequestro do âncora, as buscas para chegar à verdade do fato através da explicação da empresa até o ato final da descoberta do real responsável pela crise.
Como se vê, há eixos importantes que Jodie Foster explora com a lógica da tensão de um filme de suspense. O primeiro, pode-se avaliar através da representação de uma mídia que hoje é vista como dominante na rede de intrigas das informações dadas em tempo real e disseminando o que quer e como quer em notícias que deixaram de ser simples entretenimento e passaram a subordinar o cenário jornalístico. A busca de novos espectadores e a necessidade de aumentar a atenção de outros, projeta os programas que tendem a garantir a audiência das classes sociais mais altas. A tendência, também é, principalmente, não deixar fugir os financiadores dos programas, ou seja, manter a submissão a estes a qualquer preço.
Outro eixo se observa no poder do apresentador de um programa. Seus tiques, entonações e captura de outras estratégias para garantir a audiência se objetificam, mas o centro motor da informação – no caso do filme – é tratado de forma omissa, pois, a notícia que é dada por Lee/Clooney em meio aos malabarismos cenarizados sobre a supressão da empresa do mercado de capitais que viabilizaria o processo de capitalização e que deixou na mão os investidores é repassada somente com a informação de que o CEO - Chief Executive Officer – estava viajando e os funcionários não tinham outro informe salvo a ocorrência de um transtorno nos algoritmos do processo de ampliação do capital. Nesse caso, qual a responsabilidade de quem dá uma notícia sendo esta uma meia-notícia? A informação devida ao público e em especial ao investidor que confiou nas certezas do apresentador torna-se um anexo e não é tomada com a responsabilidade devida pelo jornalista. Essa inversão de valores de certo jornalismo é confirmado por uma conversa da personagem de Julia Roberts quando diz aos seus auxiliares (considerando a situação do programa que se desenrola ao vivo): "faz tempo que não fazemos jornalismo".
Outro eixo é o formato da narrativa. O roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf constrói um cenário de ações bruscas, diálogos recortados entre os três personagens centrais e os que são, aos poucos, escalados para sintonizar na situação extrema do enredo. Os funcionários da empresa de tecnologia que misteriosamente entra em colapso, os operadores de imagens e áudio da tevê, as estratégias para entender o clima dooutsider na família, o uso de hakers para chegar à tecnologia que motivou o colapso, tornam “O Jogo do Dinheiro” um desenho mais forte do que se propõe no enredo. Não se trata apenas de construir o suspense mas aproveitar toda a ação para fortalecer a crítica. Se o mundo dos bastidores revela a superficialidade a denúncia às corporações de capitais que enganam o público explorando o mundo real evidencia a ganância em que estas vivem. E não só no mercado de ações, mas na mídia que não se interessa em enfrentar o caso que noticia.
Usando a estratégia narrativa de um programa de tevê, até o final, exibe os pontos abertos pelo roteiro deste a primeira sequência estabelecendo, através do diálogo – telespectadores que são capturados assistindo ao programa, o cenário & personagens da ação e os novos ambientes introduzidos para levar ao eixo final – o vínculo entre o que era visto como real e o desmoronamento deste pela pressão do outsider.
“O Jogo do Dinheiro” pode não ser um filme perfeito, mas constrói sua parte crítica explorando o entretenimento o que já lhe dá uma qualidade exemplar de ser inteligente.
Palmas para Jodie Foster. Valeu! 
(Luzia Álvares)


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