quarta-feira, 11 de novembro de 2015

"NUMA ESCOLA EM HAVANA"



“Numa Escola em Havana”(Conducta) segue as lições do neorrealismo . Isto nunca foi demérito. Na Itália do pós-guerra, sem estúdios e com aparato técnico sofrível, os cineastas iam às ruas, contratavam artistas amadores, e filmavam o que lhes parecia a realidade. Foi assim que Lamberto Maggiorani(morto aos 73 anos em 1983) fez o operário a quem roubavam a bicicleta (a mim o ícone do movimento deflagrado por Rosselini, Visconti e o próprio De Sica, autor deste “Ladri di Biciclette”). Para contar a historia de Chala, menino de 11 anos filho de mãe drogada e aluno rebelde de uma escola onde uma velha mestra passa seus últimos anos de profissão, o diretor-roteirista Ernesto Daranas usa um jovem que espelha o que se pede, Armando V.Freire. O menino estreava em cinema. E comportava-se como um veterano. Lembra o Enzo Staiola de De Sica, também estreante. A câmera exige muito do garoto. Perseguindo-o pelas ruas de um bairro pobre não se contenta em focaliza-lo em largos e médios planos. Há closes. E se sabe que nesse tipo de tomada há um hiato, com a exigência de que o artista ria ou chora adiante da objetiva. Não é mole. E há uma senhora interprete, Alina Rordiguez, que faz a mestra Carmella, protetora do menino. Por sinal que ela, uma enfartada no papel, morreu este ano. Faz uma bonita despedida na idosa que lutava para antes de se aposentar (ou “a aposentarem”) dar um rumo à vida de uma criança que fora da sala de aula vendia pombos, via cachorros em luta numa rinha patrocinada pelo amante da mãe(seu pai ?) e tentava namorar uma colega que também sofria problemas familiares.
O peso censório de governo não democrático podia ser observado com a censura a uma imagem de santo colocada no mural da escola. Mas há devotos na igreja local. O caso do “santinho” serve apenas para evocar o papel de Carmella,que mesmo assim, mesmo recolocando a estampa no quadro quando uma aluna (a namoradinha de Chala) havia tirado pensando em dar-lhe boas graças da diretora que a detestava, tem atitudes que refletem um temperamento sensível às necessidades da garotada a quem ensina. A Havana do filme está longe de imagens pitorescas que o cinema divulgou anos a fio, do folclórico “Guys and Dolls” onde Marlon Brando chegava a cantar e aquele propagandístico “Yo Soy Cuba” de Mikhail Kalatazov. Um bom filme. Milagre cegar à uma tela grande local. (Pedro Veriano)

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