domingo, 24 de novembro de 2013

"FRANCES HA"


Em “Lola, Corra, Lola” (1998), o diretor alemão Tom Tyker explora uma situação e a resolução desta – Lola deveria correr para conseguir juntar em 20 minutos, certa quantia em dinheiro a fim de salvar a vida de seu namorado. A narrativa utiliza desenho animado para ilustrar a corrida da jovem em alcançar seu objetivo. A função imediata do tipo era esse e salvando isso, a pressa toda teria fim. Há outro filme, “Simplesmente Feliz” (2008), do inglês Mike Leigh, que trata de uma jovem professora primária, Poppy (Sally Hawkins) cujo toque viisual e caracteristicas pessoais convergem para o transitório e o lado positivo. Em vários momentos ela é vista como irresponsável tratando situações sérias na brincadeira. Ao assistir “Frances Ha” (EUA, 2012) lembrei dos dois filmes, mas identifiquei mais em “Lola...”. Embora os nós narrativos e a argumentação diferissem, há contudo, muito que ver como liames entre os dois tipos. Veja-se que Frances Halladay (Greta Grewig) é uma jovem residente em Nova York que sonha com uma vida independente como bailarina. Enquanto espera uma chance de integrar a equipe de balé onde está agregada e aprendendo novas coreografias ela ensina dança para crianças e divide um pequeno apartamento com a amiga de infância Sophie (Mickey Sumner). Quando a amiga encontra um novo namorado e se muda, ela perambula por outros espaços, chega a voltar à casa paterna, passa uns dias em Paris, mas prossegue sonhando com o seu ideal mesmo que seja preciso trabalhar como garçonete para se manter sem precisar de voltar de vez para a família. Mas é nessa circulação entre o sonho de ser contratada para um trabalho estável e a de se manter numa parceria permanente numa determinada moradia, de preferencia com a amiga de infânacia é que reside a ansiedade da jovem, transposta para a maneira de ela ser vista com aquele temperamento sempre a procura de algo, sempre angustiada por conseguir manter a custa da amizade, a proximidade com a amiga de infância. O titulo do filme deriva da dificuldade de Frances colocar todo o seu nome na portaria de seu prédio. Mas não é só isso: é o enquadramento de um temperamento imediatista que pretende viver a vida que escolheu para si sem esmorecer, sem retroagir e sem perder a esperança em buscar seus objetivos, sempre mantendo um temperamento alegre e em grande movimento, em velocidade que angustia o próprio espectador. Com uma narrativa simples, criada por Noah Bumbach, diretor de “Lula e a Baleia”(2005) e “O Solteirão”(2010), títulos que chegaram por aqui embora só em vídeo, “Frances Ha” expressa um tempo de buscas de uma juventude que está às voltas com o provisório, mas ligadissima em afetos duradouros. O filme foi mencionado entre os melhores do ano pelo Casting Society of America e a atriz Greta Grewig ganhou elogios de toda a critica norte-americana (e europeia) sendo comparada, no tipo que representa, a uma figura criada por Woody Allen. Greta atuou em “Para Roma com Amor”(For Rome with Love, 2012) interpretando a personagem Sally. O que interessou ao roteiro do diretor e da própria Greta foi a pintura da personagem principal, a “maluquinha” norte-americana que vive correndo pelas ruas acreditando que o seu ideal vai se concretizar contra todas as adversidades possíveis. E isso o filme consegue mostrar bem, usando o preto e branco e uma movimentação de câmera, seguindo-se a dinâmica de uma edição, e os desempenhos excelentes do elenco. É interessante observar que os pais de Frances são interpretados pelos pais de Greta na vida real, assim como Mickey Sumner (que interpreta Sophie) é filha do cantor Sting, e que Chalotte d’Amboise (que interpreta a chefe da companhia de dança) é uma famosa dançarina da Broadway, filha de Jacques d’Amboise, que foi astro do New York City Ballet e um dos intérpretes do filme de Stanley Donen em Sete Noivas para Sete Irmãos (1954). O diretor é sobrinho de Barbara Turner e do falecido ator Vic Morrow. Esse elo familiar pode ser observado na felicidade com que se mostra o cenário. A Nova York do filme lembra um pouco a Manhattan de Woody Allen e a lembrança de Allen se faz sentir em todo o conjunto. Certamente porque os autores são muito ligados, ou melhor, sabem compreender a cidade. E ela serve muito bem à pintura do tipo principal, não esquecendo a sua posição numa geração da virada do milênio, só deixando pensar na facilidade com que a personagem se movimenta a ponto de viajar pela Europa por poucos dias e voltar ao seu país sem ter muito dinheiro em caixa. Mas até aí serve a “ginástica” de Frances, tentando realizar seu sonho com o pouco que recebe de uma devolução de imposto. Um filme atraente, e que nos chega através de sala alternativa. Está em cartaz no Cine Libero Luxardo em horário regular dessa sala.(Luzia Álvares)

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