sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A DIFICULDADE DO ENCONTRO EM "A VISITANTE FRANCESA"




O roteiro de um filme é sempre uma tentativa, consciente ou não do autor, de sistematizar, cena por cena, a solução dos problemas técnicos e artísticos para a realização de um filme, antes e durante as filmagens. Em “A Visitante Francesa”, em cartaz até o final do mês no Cine Estação das Docas, o diretor sul-coreano de Hong Sang-soo (que também assina o roteiro) se utiliza da metatextualidade, numa relação de diálogo entre a escrita de um roteiro para cinema e o filme que se apresenta na tela, juntamente com a inclusão poética da própria narradora. Personagens e objetos que estão nas três histórias se inserem no tempo narrativo que experimenta, por meio de variações e repetições, a condução de histórias (como contos) escritas pela jovem Yonju, em pequenos textos escritos inicialmente para evitar o tédio e a ansiedade no aguardo de resoluções para problemas familiares. A dificuldade do encontro e as aproximações tímidas e desastradas que abrem e fecham as possibilidades de comunicação (tema explorado tanto pela Nouvelle Vague como pelo cinema de Michelangelo Antonioni), convidam o espectador a se afastar, nem que seja por 90 minutos, do olhar viciado em padrões da narrativa clássica que repetem estruturas já consagradas do ponto de vista da recepção estética. “A Visitante Francesa” aposta no cinema de experimentação, o que não quer dizer necessariamente inovação, pois o mérito maior do filme reside justamente na recriação de procedimentos que contam histórias em imagens. Novas situações em um mesmo cenário e os mesmos objetos dispostos em contextos diferentes fazem a marcação deste jogo intersemiótico, em que a garrafa quebrada, a barraca de camping, o guarda-chuva e o farol são elementos que se encontram devidamente enquadrados para reinventar outros caminhos narrativos, tais como: uma diretora de cinema a passar as férias na praia, uma mulher casada que vai encontrar o amante, e uma mulher divorciada, esta última a fechar o filme de forma instigante. O formato episódico com três histórias (como curtas), provoca o cinéfilo pela ordem e desordem do espaço fílmico, em que o diretor se vale do uso de elipses que desafiam nossa percepção, como na busca de um farol localizado num pequeno balneário e o que esta busca, de fato, representa. A aparição de um salva-vidas surge como um aceno, um sinal, que como os ensinamentos budistas do terceiro episódio, não respondem nada com a exatidão tão esperada. O farol, o salva-vidas e o monge budista são ineficazes para respostas prontas e frases de alívio. Se no primeiro episódio, a incomunicabilidade se impõe, de forma a afastar qualquer possibilidade de encontro; no segundo (podemos induzir), o encontro pode não acontecer naquele determinado momento e pode ser adiado; enquanto no terceiro, um encontro mais próximo finalmente se realiza, sem garantias de prolongamento e soluções finais estáveis. “A Visitante Francesa” é um filme sobre cinema, sobre a escrita de um roteiro que vai além dos movimentos descritivos que acontecem em frente à câmera. Além dos efeitos à exaustão do cinema contemporâneo, das simples indicações de gruas, iluminação, diálogos, entre outros procedimentos. (José Augusto Pacheco)

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