sexta-feira, 16 de agosto de 2013

"O SELVAGEM DA MOTOCICLETA" NA SESSÃO CULT DIA 17/08



O cinema nasceu em preto & branco. As narrativas visuais dos irmãos Lumière, Thomas Edison, Mèliés, entre outros visionários, demarcaram de tal forma o entendimento sobre o poder da fotografia em P & B, que décadas depois da consolidação industrial do formato em cores sobre a produção cinematográfica, a opção em filmar em P & B continuou a seduzir novos e veteranos diretores de cinema, para a reinvenção do cinema moderno e contemporâneo. Durante a década de 80, o cinema industrial e segmentos da música popular se renderam às formas de infantilização do público, em meio à queda de ingressos nas grandes redes de exibição e a popularização do vídeo cassete. Neste período, poucos realizadores correram o risco de apostar numa estética visual que enfatiza os contrastes e cria outros de tons cinza e marcações de luz, para a concepção de novos filmes, novas histórias. Por outro lado, os anos oitenta ofereçam ao público um punhado de grandes filmes em preto & branco, como “O touro indomável”, de Martin Scorsese; “O homem elefante”, de David Lynch; “O desespero de Veronika Voss”, de Rainer Fassbinder; “Down by Law”, de Jim Jarmusch; “Zelig”, de Woody Allen, entre outras exceções. Durante o período de 1983 a 1984, Francis Ford Coppola dirigiu dois filmes sobre o tema da rebeldia juvenil e gangues rivais, em adaptações livremente inspiradas em romances de S. E. Hinton (“Vidas sem rumo” e “O selvagem da motocicleta”).
Depois da narrativa operística de O poderoso chefão I e II, das possibilidades visuais exploradas em “A conversação”, da odisseia cinematográfica das filmagens de “Apocalypse Now” e de realizar um dos filmes coloridos mais belos da história do cinema (O fundo do coração), Coppola não estava interassado em se repetir. Em “O selvagem da motocicleta”, Coppola recria o romance de Hinton adotando como procedimento o legado expressionista alemão, que abre e pontua o filme com imagens de nuvens carregadas que cobrem a cidade de Tulsa, a oeste de Oklahoma, onde o protagonista Rusty James está inebriado pela nostalgia de um tempo do já foi, do já era: o tempo das gangues de rua, tempo marcado pela lealdade que mais tarde sucumbiu ao avanço da então nova onda das drogas injetáveis. O tempo de Rusty James reclama todos os direitos da juventude, com seus excessos, namoro colegial, prazeres e riscos da vida urbana que dança ao som do funk, do jazz fusion, na grande farra noturna da cultura miscigenada. Na volta do motoqueiro, a desmistificação do irmão mais velho que podia tudo. A volta do grande líder que não quer mais liderar nada, não quer revanche nesta pequena cidade de vidros espelhados, ruas molhadas, sombras de escadas, fumaças e neon sob a bela trilha de Stewart Copeland. O mito da Califórnia como uma garota linda e viciada em heroína, remete à imagem das praias eternamente ensolaradas e da dimensão épica diante do mar, onde os peixes de briga lutarão eternamente contra a sua própria imagem. O mar, este elemento visual único, que resolve, por meio do corte final, a conclusão, ou não, de diversas adaptações para o cinema que se encerram com esta imagem poderosa, presente em tantos filmes.
 Depois de “O selvagem da motocicleta”, a carreira de Coppola enfrentaria altos e baixos, com destaque para “Cotton Club”, “Tucker – um homem e seu sonho”, “Drácula de Bram Stroker” e “Tetro”.(Augusto Pacheco).

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