sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"O IMPOSSÍVEL" - NOS BASTIDORES DA CATÁSTROFE


O gênero  filme-catástrofe  foi  muito  explorado por Hollywood  e fez  muito  sucesso de bilheteria  nos  anos  70. São  clássicos  como “Inferno  na  Torre” (1974), “Terremoto” (1974), “O  Destino  do Poseidon” (1972) dentre  tantos  que  usaram e  abusaram da  fórmula que  recriava  o  pavor através de  imagens  grandiosas da destruição   material e  humana. Houve  uma  tentativa de retomar o gênero com “TITANIC” (1997), “O DIA DEPOIS  DE  AMANHÔ  (2004) e “2012” (2009), este   acompanhado  do marketing  das falsas  profecias sobre  o fim  do  mundo. Ficou provado que  as  catástrofes naturais ou provocadas pela soberba do homem - não  importa  se  na ficção  ou se  no  outro continente em tempo  real  do  noticiário via  satélite – ainda mexem com o imaginário do público que  vai  ao cinema  buscando  entretenimento.
“O Impossível” (2012) produção espanhola e americana do  diretor  catalão Juan A. Bayona  é  uma  dessas extraordinárias  histórias que parecem tiradas  da  seção ‘Histórias  Incríveis’ da  Reader’s  Digest . É uma  história real que levada às  telas do cinema vai além do entretenimento e  dá a grandiosidade e dimensão do que  ela  realmente representa  para a humanidade. Não é apenas  um  filme-catástrofe   com  cenas dantescas e efeitos  especiais de encher os  olhos. Na  verdade, os  olhos  do público se  enchem inevitavelmente de outro modo ao ver as situações limite de uma  família desmembrada violenta e dramaticamente pelo   tsunami de 2004 e que luta para não  morrer em meio ao completo caos. Talvez o  grande  mérito do  filme  seja  o foco do diretor em não  perder-se numa narrativa que se sujeitasse aos apelos  das   cenas de caos e  devastação deixados  pelo desastre   natural  que marcou  o mundo num dia  de natal  de  2004, mas  inteligentemente ele privilegia os   bastidores do dia seguinte daquela  catástrofe  bíblica   mostrando a impotência de uma família e das centenas de  pessoas diante de um acontecimento de tal  magnitude.  Outro mérito do filme é que não se trata de uma ‘tragédia americana’, mas de um evento universal se observado como  um microcosmo onde haviam pessoas de várias partes do mundo. A  história  da  família  do casal Henry e Maria que busca se reencontrar é  apenas  uma  das  centenas de histórias  de sobreviventes da  mesma  tragédia e que  o  mundo  não ficou  sabendo. É bom  lembrar que na adaptação  para  o cinema a família de espanhóis é representada por  uma família britânica.  Dentro desse microcosmo resultado do  cataclisma  prevalece a ideia do objetivo comum do ser humano na busca e esforço mútuo em amenizar o sofrimento e a dor de todos. Ali todos são  iguais sejam  europeus, americanos ou asiáticos.

A sequência da chegada do tsunami não  dura talvez  mais  que  15 minutos no filme, no entanto   é de um realismo impactante. Tomadas debaixo d’água e grandes planos abertos aleatórios só tentam  mostrar o que  foi aquele  fatídico dia. Mais  uma  vez a técnica e os efeitos especiais bem dosados a  serviço de uma  boa história  é um dos segredos  do filme.   Outro  bom  momento é a curta participação de Geraldine  Chaplin como a desconhecida  sobrevivente que trava um diálogo sobre a eternidade das  estrelas  com  uma das  crianças da  família. É também uma  das poucas pausas de respiração durante o fundo  mergulho no sofrimento e dor  vividos pelos personagens principais. Vale mencionar  as  ótimas atuações de Ewan McGregor e Naomi Watts que emocionam a plateia  mesmo sem  a ajuda dos “mil violinos” da trilha  sonora que surge para intensificar  a comoção. O elenco  por si só consegue dar o tom e a atmosfera  necessários  à  cena.
O Impossível pode ser visto como  o milagre  da  determinação e capacidade do ser  humano de  lutar  pela sua sobrevivência  mesmo em meio a dor  e  a adversidade. E a maior demonstração de humanismo  é a da personagem Mary ao seu filho mais  velho   que  o  faz  refletir no quanto vale a pena se  colocar no lugar do  outro. O Impossível é  um ótimo  filme! (Elias Neves)

 

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