quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"LINCOLN" 2012

Lamar Trotti (1900-1952) roteirista de cerca de 60 filmes e 3 vezes premiado foi quem escreveu o roteiro do mais interessante filme sobre Abraham Lincoln, o presidente norte-americano mais cultuado ate agora: “A Juventude de Lincoln”(Young Mr Lincoln/1939) dirigido por John Ford. Mas antes deste filme e depois dele muitos mais focalizaram o personagem histórico. Agora é a vez de Steven Spielberg em “Lincoln”(EUA, 2012), tendo como base o livro biográfico escrito por Doris Kearns Goodwin, através de um bem estruturado roteiro de Tony Kushner. Doris, PHD em Ciência Política pela Harvard University, autora de outros livros sobre presidentes norte-americanos, é casada com um diplomata, Richard Goodwin, considerado muito influente na deposição do presidente brasileiro João Goulart, em 1964. O filme de Spielberg prende-se ao debate sobre a emenda constitucional que daria liberdade aos escravos, a aprovação da 13ª Emenda. Nessa época estava em processo a guerra civil, mais conhecida como Guerra de Secessão (1861-1865), com o sul do país pugnando pela manutenção de seu status agrícola, e totalmente contra a emenda de Lincoln, posto que avaliava imprescindível a mão de obra escrava (leia-se negra) para a plantação e colheita do algodão, sua base econômica. Segundo a narrativa do filme, que não dá concessões ao espetáculo (o comum em filmes de Spielberg), a política de Lincoln, recém-reeleito à presidência dos EEUU, não se prendia a favores aos denominados confederados (o sul havia criado uma Confederação para lutar contra o norte), tanto que não aceitou a imediata rendição das tropas sulistas em troca da retirada da emenda em plenário (isto depois de ela já estar dependendo dos deputados, com aprovação do senado – ou Upper House). O presidente queria ver escravos livres mesmo que em setembro de 1862 já houvesse proclamado a Lei de Emancipação, vigorando em janeiro de 1963. E o filme aponta um dos motivos desse desejo num dialogo que ele mantém com negros soldados logo na primeira sequencia do filme. É interessante observar o despojamento do Chefe de Estado quando é evidenciado que ele perdera um filho no conflito e estava na iminência de perder o segundo que desejava ir para o campo de batalha sensibilizado com o numero de mortos que chegavam às terras de União (norte). O filme é um grande discurso político que pretende evidenciar o caráter de um mandatário humano, de quem compreendia que se um país se dizia cristão e democrático, evocando as palavras divinas de que “os homens foram feitos iguais”, tão enfatizado pelos Pais Fundadores, estaria cometendo um paradoxo ao acobertar o preconceito racial. “Lincoln” é um painel honesto sobre um recorte histórico da História Americana. E muito deve ao roteiro e ao ator Daniel Day Lewis, no papel principal. Maquilado de forma a parecer fisicamente com o biografado, Lewis, já detentor de 2 Oscar (por “Meu Pé Esquerdo” em 1989, e “Sangue Negro”, em 2007) deve ganhar o seu terceiro (e ele ainda chegou a ser candidato por “Em Nome do Pai”/1993 e “Gangues de Nova York”/2002). O ator passou anos trabalhando esse protagonismo e chegou a ensaiar um gestual que foi descrito, na biografia de Lincoln, como típito desse líder político. Impressiona o gestual. Mas o que salta do conjunto é que um filme longo (mais de duas horas e meia de projeção) e pousado em falas, consegue atrair plateias com vivo interesse. Não é possível criticar como “não cinema” um filme que apresenta extensos diálogos. Não bastam as brilhantes frases que se ouve (ou lê). Um elenco bem conduzido, uma produção bem cuidada, uma edição que sabe jogar com o “timing”(tempo de sequência) todo um conjunto técnico-artístico colabora para que o trabalho do conhecido diretor de “Tubarão” seja mais do que uma homenagem. É, como eu mencionei, um documento histórico. Mesmo porque, a não concessão para evidenciar o jogo político construido nos bastidores do poder entre os personagens diretamente envolvidos no interesse do presidente em aprovar a 13ª Emenda nesse momento, mostrou que somente nessa base, entre barganhas e acertos interpares, Lincoln conseguiu a vitória para a emenda apresentada. Como ele dizia, é agora ou nunca, quando o fim da guerra ainda não fora definido, que será possivel a aceitação da proposta, seguindo-se o fim dos confrontos norte-sul. Embora o filme explicite o entorno da ingerencia política entre os legisladores e o executivo, dando uma aula sobre o legislativo americano, sem duvida atiça o interesse do público em busca de mais informações sobre o episódio. Filme imperdível! (Luzia Álvares)

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