domingo, 3 de fevereiro de 2013

"DJANGO LIVRE"


Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) escrito e dirigido por Quentin Tarantino se localiza nos EUA, no ano de 1858, dois anos antes do início da Guerra Civil, período em que a escravidão negra estava estabelecida nas fazendas americanas e, também, quando caçadores de recompensas podiam, sob a proteção da justiça, prender e até matar pessoas acusadas de roubos e assassinatos. Época de exacerbação da violência, um tema normalmente presente na obra de Tarantino. O filme é forte, muito bem desenvolvido cinematograficamente em uma narrativa fluente, dramática, com situações de extrema violência externa, mas envolvida por elementos que a colocam em cheque como solução no contexto geral. Não tem função apenas plástica, mas está inserida na análise global das situações e condicionantes sociais e econômicos do momento.O Dr. King Schultz (Christoph Waltz), apresentando-se como dentista, interrompe uma marcha de escravos conduzida pelos irmãos Speck. Ele procura um escravo que conheça e possa identificar os irmãos Brittle. Django (Jamie Foxx), um dos cativos, se manifesta, ele é capaz de atender ao pedido de Schultz que, por isso, tenta comprar o escravo. No entanto, um dos irmãos prefere matar o dentista, ele vê em Schultz um inexpressivo e dócil negociante. Engana-se. Schultz o mata e atira na perna do outro. E a negociação se efetiva: King paga ao ferido, por Django e pelo cavalo do morto, solta os escravos oferecendo-lhes duas opções: levar o sobrevivente para a cidade ou matá-lo. Na verdade, King Schultz é um caçador de recompensas. Ele, então, designa Django seu auxiliar e o convence a se associar a ele com participação nas recompensas. De início Django reage, mas acaba aceitando a proposta, Schultz o fez passar por um teste de fogo e a uma explicação que o convenceu.Caçar ladrões e assassinos é uma tarefa perigosa, mas Schultz, um homem de rara inteligência, aplica estratégias inusitadas extremamente arriscadas, mas eficazes. Essas estratégias dão ao filme um caráter de novidade, são criativas, instigantes e intrigantes e sustentam um clima de suspense na narrativa. Em alguns momentos as explicações dadas por Schultz para garantir o sucesso de suas caçadas, além de serem muito bem elaboradas do ponto de vista lógico, trazem toques de bom humor que aliviam o clima de tensão. Há uma sequência cômica quando um fazendeiro vai liderar um ataque. Seus acompanhantes usam sacos brancos nas cabeças lembrando a Ku Klux Klan (KKK). Quando se preparam para a ação percebem que os sacos impedem que enxerguem bem. Para melhorar a visão, alguns abrem mais os buracos na direção dos olhos, mas sem sucesso, alguns até rasgam o capuz improvisado. Diante das reclamações um deles se aborrece, se considera ofendido, pois quem dedicou tempo a preparar os sacos foi sua mulher. Essa sequência, de preparação da violência, torna-se risível e soa, também, como uma crítica à organização racista. Mas não é só caça a malfeitores que sustenta o filme. Django é casado com Broomhilda Von Shaft (Kerry Washington), escrava como ele e que, antes, havia sido serva de uma senhora alemã. Aliás, King Schultz é, também, alemão. King e Django, além de sócios, tornam-se amigos e a busca pela mulher de Django se incorpora à caçada aos bandidos.Com os dois objetivos em mente, chegam à fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), local onde duas fortes personalidades vão se enfrentar em confronto psicológico e físico: Schultz e Candie. E com a participação do velho Stephen (Samuel L. Jackson), um escravo liberto extremamente afeiçoado a Candie, já o fora ao pai dele e é uma espécie de conselheiro do fazendeiro. Mas o confronto final é entre Django e Stephen.Na verdade, a fazenda dos Candie retrata, em cores fortes, aspectos significativos daquele momento histórico nos EUA: brutais proprietários de terras administrando com extrema violência suas fazendas com a exploração do trabalho de escravos, gerando conflitos na ocupação do extenso território americano, alguns dos condicionantes para a explosão da Guerra Civil. Tarantino foi muito hábil na criação dos personagens porque cada um deles representa e concentra características das vertentes sociais do momento; os exageros estão pela necessidade de síntese e da contundência própria do estilo do cineasta.A morte dos ocupantes e a destruição da mansão dos Candies em uma grande explosão e incêndio, sob as vistas de Django e Broomhilda, definem claramente os vencedores, com o toque romântico do casal reunido, o amor também venceu. Uma variação de soluções semelhantes já utilizadas e ao gosto de Hollywood, mas que ficou muito bem colocada em Django Livre, (Unchained), Django desacorrentado. (Arnaldo Prado Junior)

Nenhum comentário:

Arquivo do blog