Os
créditos em forma de videogame já anunciam que o filme bebe diretamente nessa
fonte. E “Detona Ralph”, ao contrário de outros filmes que foram adaptados de
games, prova que as duas linguagens podem ser combinadas para formar um produto
harmonioso e de alta qualidade. Ali, nos créditos
iniciais, não aparece a luminária da Pixar, apenas o castelo da Cinderela e o
nome Walt Disney Studios. Mesmo assim, o que o diretor Rich Moore fez, ao
contar a história de um vilão de um jogo que quer ser o herói e para atingir
esse objetivo coloca todo o arcade onde vive em risco, foi repetir a fórmula de
sucesso da ‘casa das ideias’: contar uma história que valoriza a aceitação
social e faz uma ‘elegia’ à amizade, sem pieguice.
É impossível
assistir “Detona Ralph” e não fazer comparações, por exemplo, com “Monstros
S.A.” – cujaprequel, “Universidade dos Monstros”, é um dos lançamentos
mais aguardados este ano – já que temos, no plano principal, a relação entre
Ralph e a pequena Vanellope como aquilo que desencadeia os fatos na história.E aqui, as
referências à cultura pop e piadas com jogos, consoles e personagens queridos é
abundante, o que dá um sabor diferente a “Detona Ralph” – fora que é incrível
perceber como o ‘layout’ de cada personagem/jogo foi mantido com maestria, além
da trilha sonora que evoca desde o barulho quando o pac-man come até a música
de “Metal Gear Solid”, tudo com muita graciosidade. Enfim, muito dinheiro deve
ter sido gasto com direitos autorais das fabricantes, mas o investimento valeu
a pena.
Acerto comprovado através de bilheteria
e prêmios
A animação concorre ao Globo de Ouro no próximo domingo – e esta
no páreo para ir ao Oscar -, e é realmente a prova inconteste de que a Disney
fez a lição de casa, focando o enredo (original) na figura de Ralph, um vilão
que quer parar de detonar as coisas, mas para isso precisa adquirir um objeto
que faça os moradores do seu game o valorizarem.
Na bilheteria, o acerto foi sentido logo no fim de semana de
estreia nos Estados Unidos, quando o filme arrecadou R$ 49 milhões e se tornou
a maior bilheteria de abertura de uma produção da Disney.Uma cena que comprova isso é a hilária reunião de vilões
anônimos, onde Ralph busca conselhos de um zumbi, robotinik (Sonic), Bowser
(Mario), Sub-zero (Mortal Kombat), Zangief (Street Fighter) e outros ícones da
maldade em 8, 16, 32, 64 bits. Todos estão deprimidos e inseguros, fazendo
falas de aceitação e repetindo frases como ‘eu sou mau e isso é bom... Nunca
serei bom e isso, não é mau’.O público infantil vai amar a história, em especial a fofa
Vanellope, mas é o público adulto quem dará muitas gargalhadas e deixará
escapar algumas lágrimas quando aparecer uma peach ali, um link acolá, a fase
bônus da garagem do street fighter e até uns gritinhos de ‘ah’ quando um
console Nintendo é achado no depósito do “Tapper”. A nostalgia é equilibrada
com boa dose de aventura quando Ralph sai do seu jogo e logo aciona o fator de
risco – ele pode ficar preso em outro jogo e se tornar um personagem ‘turbo’
(se explicar estaria estragando uma importante peça da trama) ou sua ausência
pode gerar o desligamento do “Conserta Félix Jr.”
Um passeio pelo mundo do fliperama
Na versão original – que só poderá ser apreciada em casa, já que
somente cópias dubladas chegaram a Belém - John C. Reilly empresta seu perfil
um tanto ‘bronco’ ao grandalhão Ralph, cansado de esmagar tijolos e destruir o
prédio do game “Conserta Felix Jr.”, um game de consoles como Atari que
completa 30 anos.A ocasião é a gota
da água e Ralph se cansa de viver no lixão. Ele sai de seu jogo (algo que é
quase proibido no seu arcade, uma espécie de estação central, onde
fiscalizadores mantém a ordem e os jogos ficam situados). E os jogos que são
realmente explorados pela narrativa, estão ali para maravilhar os olhos e
compor painéis diferentes de personalidades daqueles seres, como numa sociedade
do mundo real. Ralph para primeiro em uma mistura de “Starcraft” com “Perfect
Dark”, onde luta contra aliens. O problema é que ele acaba trazendo um bichinho
consigo. A grande estrela da série musical “Glee”, Jane Lynch, dá a mesma pinta
de braba de Sue Sylvester à atiradora Calhoun, que segue atrás de Ralph e do
alien pelo mundo dos games.Felix também está
preocupado e vai atrás do vilão, que entra num jogo chamado “Corrida Doce”, onde
conhece a espevitada Vanellope. Os comediantes Sarah Silverman e Jack McBrayer
fazem as vozes de Vanellope e Felix.Ela tem um sonho e
cabe a Ralph empreender a jornada do verdadeiro herói, sem abrir mão de algumas
atitudes pouco corretas, para fazer a menina ganhar, salvar o dia e ter seu
final feliz. Até um ‘bug’ a Disney acrescentou nessa fase do filme, o que
mostra a integração com a linguagem dos games.
Algo tão edificante
e emocionante como “Detona Ralph” pode até ser produto da Disney, mas tem a
cara de outro, e olha que Rich Moore é cria da Pixar (ele é mais conhecido por
seu trabalho com “Os Simpsons”). Quando sobem os créditos finais, lá está o
nome do fundador e diretor criativo da ‘casa das ideias’, John Lasseter, como
produtor executivo.(Lorenna Montenegro)
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