segunda-feira, 5 de novembro de 2012

VER EM CASA

O cinema doméstico tem várias significações. O que se pretende aqui tratar é de home movies, aquele que se assiste em casa, no espaço privado. Mas interesante também entendê-lo com outros significados. Interessante o texto de Luis Nogueira (2008) “Cinema Doméstico na Era da Internet” (www.doc.ubi.pt/ Revista Digital de Cinema Documentário) sobre essa questão, mesclando esse olhar com o doméstico como imaginário na realização. O texto refere: “Na primeira sessão cinematográfica apresentada pelos irmãos Lumière em 1895, um dos filmes mostrados não poderia ser mais emblemático da questão que aqui nos ocupa: o cinema doméstico. Trata-se da curtametragem “Le repas du bebé” e nela vemos nada mais do que um casal a alimentar o seu infante. Este episódio, absolutamente prosaico, haveria de ser repetido vezes sem conta, com pequenas variações, nos filmes caseiros que o futuro se encarregaria de produzir. A presença deste filme na sessão pública inaugural do cinematógrafo não deixa de ter, portanto, um elevado valor simbólico, ainda que de algum modo acessório: a infância era um dos temas da infância do cinema. Este efeito de espelho é tão mais interessante quanto remete para a questão (...): como se constituiu o doméstico enquanto tema artístico e, para o que aqui nos interessa, cinematográfico, ou seja, como ocorreu o nascimento deste imaginário?” Mas vou me ater à exibição e não a realização.
Um dos aspectos iniciais da projeção privada se dá em películas em 16mm, bitola criada no período da 2ª.Guerra Mundial para, entre outros, levar esta arte & diversão aos soldados aliados no front. Com a chegada do vídeo, primeiramente o VHS, esta forma de ver filmes intensificou-se. E com o DVD ganhou maior impulso. Hoje há a facilidade de serem vistas as produções lançadas nos cinemas comerciais na tecnologia 3D. Com isso, o cinéfilo ganha o respaldo de observar as obras em seu original, longe da dublagem que falseia os tipos através de vozes que não correspondem a eles (e está se tornando rotina) Na coluna da semana passada mencionei os títulos de uma nova distribuidora de DVD que está lançando filmes antigos, especialmente de Hollywood. O problema dessa empresa é manter o logotipo “clássico” nas imagens projetadas, supondo-se uma cópia de TV.
Em um dos filmes dessa empresa, por sinal, surgiu o logotipo do canal TCM. Uma afronta. Mas na área dos clássicos, o melhor está mesmo com as distribuidoras veteranas como a Versátil, Classline (esta cearense), Cult-Classic e Paragon (há outras, mas com menos títulos). A Versátil esta lançando um estojo chamado “Hollywood Contra Hitler”. Traz 6 filmes, de 1939 a 1943, realizados por cineastas de peso. Há, pelo menos, 3 obras impecáveis: “Tempestades D’Alma”(The Mortal Storm/1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(Watch on the Rhine/1943) de Herman Schumin, e “A Sétima Cruz”(The Seventh Cross/1944)de Fred Zinnemann. Oportunamente tratarei deles.
Esta semana assisti alguns. Repasso: “O Sorgo Vermelho”(Hon Gao Liang/China, 1987) é um filme de Zhang Yimou, um dos mais prestigiados cineastas chineses (dele “Lanternas Vermelhas”). Em foco, um episódio histórico sobre camponeses chineses que assistem o cenário de suas vidas ser maculado pela investida do exército japonês. A narração oral focaliza My (Gong Li), jovem guinada pela família a casar-se com um homem rico, leproso e no caminho do encontro com ele é violentada. Engravida, volta para o seu ponto de origem e sofre as perseguições de bandoleiros e dos soldados nipônicos. Produção competente e fotografia explorando eficientemente o drama narrado, perdoando-se os estereótipos, mantendo o interesse do espectador. O filme ganhou 7 prêmios internacionais inclusive do Festival de Berlim. “Em Casa Para o Natal”(Hjem til jul/2010), um raro filme norueguês premiado em festival europeu, abordando varias historias, a lembrar Robert Altman. Pessoas esperam o Natal de diversas maneiras, desde garotos que dizem não festejar a data (um muçulmano, outro incrédulo) a um médico que na noite de Natal é obrigado a atender uma parturiente e se sensibiliza sabendo que o casal fugiu da guerra na Bósnia. Há o aparente mendigo, expulso do trem, sendo reconhecido por uma mulher, e há o homem solitário que busca amigos. Todos os quadros são tratados com visível preocupação de ressaltar o aspecto sentimental do enredo, sempre revelando o cuidado artesanal do diretor Bent Hamer (de “Caro sr. Horton), também autor do roteiro. Imperdível.(Luzia Álvares)

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