sábado, 24 de novembro de 2012

"ARGO"

A primeira sequencia do filme “Argo”(EUA/2012) de Ben Affleck mostra uma síntese da história contemporânea do Irã, lembrando que o país era a antiga Pérsia e seus governos sucessivos extrapolaram ações repressoras culminando com as atrocidades cometidas pelo xá Reza Pahlavi, deposto e refugiado nos EUA para tratamento de um câncer. O relato termina com a situação atual quando os aiatolás assumiram o governo e o povo passou a revidar os maus tratos sofridos odiando, especialmente, os norte-americanos, pelo asilo dado ao ditador deposto. A narrativa se inspira em um fato real, quando alguns funcionários da diplomacia norte-americana ao viverem a invasão da sua embaixada por revoltosos iranianos se refugiaram na embaixada do Canadá. Ali permaneceram sem poder sair, pois os que os odiavam estavam nas ruas, esperando-os. Basicamente o enredo é a operação idealizada por um agente da CIA que simula a realização de um filme de ficção cientifica em território iraniano e, para isso, cria equipe de produção & tudo o que tem direito numa empresa holiwwdiana e, na terra estrangeira, seria formada pelos seis refugiados de seu país. Este plano é meticuloso, mas poucos acreditam que dê resultado. Consultando pessoas de cinema, Tony (Ben Affleck) consegue mostrar aos interessados um roteiro e um “storyboard”, assim como pede que cada um dos refugiados decore o que deve dizer das tarefas de filmagem (há um diretor, uma roteirista, um produtor etc.). Tudo caminha para a realização do plano quando o Departamento de Estado do governo Jimmy Carter, resolve mudar as regras e ativar uma tropa militar para liberar de qualquer forma os mais de 70 reféns que já haviam sido presos, incluindo os outros seis nessa nova campanha militar. A medida seria perigosa, talvez mais do que a realização do filme de mentira arquitetado por Tony. Em vista disso ele resolve contrariar os superiores e seguir avante em seu plano. O filme é extremamente bem narrado dando a impressão, em alguns momentos, de um documentário. Mas o que eleva o resultado é uma direção de atores eficiente, a mescla de locação com cenas de estúdio, e tudo resolvido por uma edição exemplar. Para que se tenha uma ideia de como a trama funciona basta levar em conta a emoção que gera num crescendo, chegando à agonia do suspense nos planos semifinais. Há cortes de segundos detalhando expressões em closes e alternando movimentos manuais de câmera que sugerem uma cine-reportagem. Affleck não só trata do que a personagem diz “filme de mentirinha”, ou o filme dentro do filme, como elabora o suspense em alta dosagem. Os tipos sabem que se algum detalhe for percebido, na fuga para um avião suíço, eles estarão mortos. O crescente ódio dos iranianos contra os norte-americanos é demonstrado em momentos como numa feira onde um homem idoso reclama da foto captada por uma das personagens e evoca a sua condição de pai de uma vitima das atrocidades de Reza Palahvi acobertado pelos americanos. Na hora do embarque, no aeroporto, é“tudo ou nada”, com o espectador na ponta da poltrona torcendo para que os guardas locais aceitem a ideia de um filme popular e até se entusiasmem com os desenhos de cenas. O que falha em “Argo”, e este nome deriva da ficção que seria filmada no Irã (um plano detalhado em cima de um processo ardiloso e falso) é não só a sequencia de fecho onde se vê o agente da CIA em casa, com a família e, no plano de fundo, a bandeira americana tremulando. Ele, “herói”, não havia sido reconhecido oficialmente como tal, mas a condição “patriótica” ganha corpo como forma de homenagear a coragem de um filho da América. Coisa da velha Hollywood. Além dessa sequencia há toda a dimensão “de bastidores” contada em fragmentos sobre o enriquecimento de empresas norte-americanas e as atrocidades cometidas em nome do imperialismo. O filme de Afleck é daquele tipo de dá lição de como se organiza a ideologia de direita em função da convicção de que “só estamos vendo um filme....” Aliás, ele deve ir ao próximo Oscar com muita chance de ganhar. Está fazendo a cabeça dos eleitores e de quantos não têm acesso ao que o ocidente oprime o oriente. Mas as criticas são favoráveis a ponto de um site que faz o balanço dessas critica adjetivar que é “extraordinário”.(Luzia Álvares)

Nenhum comentário:

Arquivo do blog