terça-feira, 23 de outubro de 2012

UM RETRATO DA FOME QUE NÃO TEM COR




“Garapa” é uma contundente e dolorida obra sobre a vida de algumas famílias miseráveis do nordeste Lançado em 2009, o documentário “Garapa”, de José Padilha será exibido no SESC Boulevard nesta quarta-feira (24), com debate mediado pela Associação de Críticos de Cinema do Pará. É oportunidade de ver um filme único, que teve sua pré estréia na 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, participou da Berlinale e provou a versatilidade do cineasta brasileiro, que atualmente roda a super produção “Robocop”. Após o estrondoso sucesso de “Tropa de Elite”, José Padilha foi descansar e voltar as raízes documentais. O que se sucedeu foi a vontade de ir ao nordeste documentar a seca e a fome conseqüente da miserável paisagem. Acompanhando a vida de três famílias que passam fome no estado do Ceará, Padilha fez de “Garapa” um dos mais dolorosos filmes, cuja dureza ainda foi um tanto amenizada pela fotografia em preto e branco.
Durante quatro semanas, Padilha e sua pequena equipe registraram o cotidiano das famílias e especialmente de suas crianças que vivenciavam um estado de segurança alimentar grave. A ‘garapa’, uma mistura de água com açúcar, é aquecida e dada como alimento, muitas vezes o único, durante dias de inanição e seca. Enganar o estômago e dar energias aos que estão em fase de desenvolvimento, reflete a aspereza com que Padilha enfrenta a realidade cruel com sua câmera. Em entrevista concedida na época do Festival de Berlim, ele disse que “Garapa” se tratava do retrato da fome sem ‘filtro intelectual’. “A questão é que isso não resolve o problema. Essas crianças crescem sem condições de aprender ou disputar espaço no mercado de trabalho”, assinalou. O programa do governo Federal de erradicação da miséria, o Fome Zero também tem espaço no filme. Apenas uma das famílias entrevistadas recebem o benefício, cerca de 50 reais por mês. A voz de Padilha surge em off para questionar como é usado o recurso ínfimo.
A verdade é que “Garapa” é uma das produções mais violentas e incômodas que o cinema brasileiro já produziu - isso sem derramar uma gota de sangue. A miséria que vemos na tela é a mesma que atinge mais de 10 milhões de brasileiros, de acordo com as estatísticas e estudos do Governo Federal. E Padilha buscou alinhavar realidades ao fazer um retrato simples, com o mínimo de alegorias e informações que fossem além da história das famílias. Em meio a mais de 45 horas de material filmado, ele entregou um filme que é difícil de descolar da retina, mas que precisa ser visto e pensado pelos que almejam um país menos desigual. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO: Sessão ACCPA/SESC apresenta “Garapa”, de José Padilha. Nesta quarta, 24 de outubro, às 19h, no Centro Cultural SESC Boulevard (Av. Boulevard Castilho França, 522/523 - Campina). Entrada Franca. Após a sessão, debate com os membros da ACCPA.

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