quarta-feira, 24 de outubro de 2012

PARANORMALIDADE E CINEMA

A paranormalidade, condição ou situação de quem ou do que é paranormal, diz respeito a fenômenos não explicados rotineiramente pela ciência, sobrenaturais. O cinema tem se valido desses fenômenos a partir do medo que gera o desconhecimento. Um evento não explicado ocorrendo em determinado ambiente é implicitamente um fato que amedronta. E filmes como “Atividades Paranormais” se apegam a isso. Essas “atividades”, que já atingem a quarta edição, seguem uma linha narrativa sem roteiro, imitando o cinema amador na busca de um realismo que possa estimular o medo. Sempre em foco dependências de uma casa, pessoas de uma família, crianças e objetos que se movem de forma barulhenta principalmente à noite. A regra é nunca “mostrar” o fantasma, ou, se for preciso, deixar que se veja um vulto, uma nuvem, nada de monstros ou qualquer figura bizarra que se evidencia pelo aspecto físico. O pavor surge, por exemplo, de um objeto que cai, de um rosto que aparece de súbito em primeiro plano seguido de um acorde brusco, ou de uma diferença de iluminação (também súbita) no quadro. O quarto episódio dessa série de filmes faturou a maior bilheteria da semana nos EUA.
O custo da “brincadeira” é baixissimo, mas, a julgar pelo que rende, pode-se afirmar que a fórmula não se exauriu – e nem adianta mencionar diretor ou atores, visto que tudo faz parte de uma engrenagem harmônica que seduz produtores ávidos de lucro fácil. O título do flme já referenda a amostragem de fenômenos de psicocinese, como o movimento de objetos físicos etc., sem qualquer explicação para o público no esquema dos ruidos demonstrados. É só isso e nada mais. Um filme que discute a paranormalidade, “Poder Paranormal” (Red Lights/Espanha, EUA, 2012, 1h53m) teve rápida passagem em uma sala de cinema distante do centro da cidade. Talvez porque não tenha como objetivo assustar os espectadores (que se divertem gritando ou segurando o parceiro de poltrona). O roteiro (também a direção, a edição e a produção) do espanhol Rodrigo Cortés trata de dois cientistas, uma veterana (Sigourneyy Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy) que visitam casas onde os moradores afirmam existir fantasmas circulando nas dependências. A primeira seqüencia trata disso. Mas é reticente. Diz-se de recursos para levantar mesas em reuniões mediúnicas forjadas, mas não se conclui a observação. Os pesquisadores preparam-se para enfrentar um famoso médium, afastado de todos há 30 anos desde a morte de uma pessoa em uma de suas sessões.
O personagem (Robert De Niro) é cego e a sua volta em um teatro com ingresso pago, leva multidão a assisti-lo trazendo admiração em meio à expectativa. Margaret, a pesquisadora de meia idade, guarda do médium que ora volta à cena uma conversa com ela quando seu filho sofre um desastre entrando em estado de coma. Ela não quer desligar os aparelhos, pois espera encontrar, com suas pesquisas, indicios de uma existência além da vida. Mas o médium afirma estar vendo uma criança, próxima da pesquisadora, que pedia que a libertasse. “-Deixe-a ir”, diz ele. Isso a leva a ter prudência em um novo encontro com o medium. E seu colega segue essa prudência. Fatos acontecem que levam o filme à uma sequencia apoteótica, criticada pelos céticos observadores. De fato, Cortés apresenta duas variantes de linguagem. A primeira é moldada no ceticismo dos cientistas e vê de longe os chamados fenômenos paranormais. A segunda é uma licença ao recurso formal de espetáculo. Isso realmente destoa. Ainda mais quando o que seria certamente explicado pelo espectador atento ganha um aspecto redundante na fala de um personagem. Mas “Poder Paranormal", ou “Luz Vermelha”(Red Lights) da tradução original, está acima desses ensaios de franquia sem qualquer responsabilidade seja cinematográfica seja cientifica. É um filme sério, procura ser antidogmático, e o diretor de “Enterrado Vivo” torna a mostrar que tem imaginação e sabe fazer cinema. Felizmente não aderiu ao “caça níquel” dos atuais colegas norte-americanos.(Luzia Álvares)

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