quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"O LIVRO DE CABECEIRA" NO CINE SARAIVA DIA 01/11

“Livro de Cabeceira”, filme do britânico Peter Greenaway, será exibido amanhã (01) Peter Greenaway nunca foi um cineasta dado a convencionalismos. Quando aborda a história de uma menina japonesa que cultiva o ritual da escrita corporal, ele o faz de uma maneira onírica, passional e filosófica. “O Livro de Cabeceira” transforma essa particularidade singular numa força catalisadora entre dois mundos, o do ocidente e do oriente. O filme poderá ser conferido nesta quinta-feira, 01 de novembro, no Cine Saraiva – programação da Associação de Críticos de Cinema do Pará. Desde pequena, Nagiko (Vivian Wu) é brindada pelo pai escritor (Ken Ogata) com um presente: saudações são escritas belamente em seu rosto e nuca. Ela passa a entender aquilo como uma tradição, como se a pele fosse o papel através do qual o pai dava vazão aos sentimentos pela filha. Mas a trama começa a ganhar um significado diferenciado quando um livro erótico (homônimo) datado do século 10, é dado de presente a Nagiko por sua tia (Hideko Yoshida). Estamos no Japão, em plena década de 1970 do século 20, quando o sexo é livre, mas as mentes são dominadas pelo politicamente correto. Nesse contexto, a moça se utiliza dos aprendizados do livro para usar o corpo de seus amantes e fazer das suas peles, o seu livro de cabeceira. Imagem e letra, prazer e dor vão se alternando num arcabouço estético quando a história de Nagiko é transformada em imagens pelo esteta Greenaway. Ele utiliza o enredo para explorar a relação entre o homem e a arte, primordialmente a anatomia humana. Com um estilo visual inovador e estonteante, observamos como, para ela, escrever nos corpos é tão importante como respirar.
O movimento da câmera acompanha o deslizar das tintas no corpo, que por sua vez penetram na pele e perpassam o patamar de fetiche. Pois se é o corpo, as mãos, que escrevem, nada mais natural que, a partir delas, as letras e símbolos voltem para a derme. Não é possível acompanhar o que se passa em cada ‘frame’ que Greenaway produz assim como a leitura de uma palavra sobre a outra dentro do suporte literário, tem que estar encadeada num conceitou ou ideia. E aí os ideogramas orientais ganham ainda outra significância – Eisenstein em seu “A forma do filme”traçou um paralelo entre a imagem de cinema e um ideograma. Quando surge Jerome, o escritor e tradutor britânico interpretado por um jovem Ewan McGregor, Nagiko parece ter alcançado no amor, uma resposta à existência, dentro de um caráter que beira o inexplicável sem abandonar o que é intrínseco a toda uma compreensão racional da vida. Ela não consegue escrever no corpo dele com precisão e entrega o seu corpo a ele para que seja preenchido por palavras numa língua que não é a sua. Apesar de alguns momentos mórbidos e estranhos, é o filme mais romântico de Greenaway e talvez um dos mais acessíveis. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/Saraiva apresenta “O Livro de Cabeceira”, de Peter Greenaway. Nesta quinta, 01, às 19h, no espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva ((Boulevard Shopping, 2º piso). Entrada Franca. Após o filme, debate entre o público e membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará.

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