Volta ao Olympia “Sublime Tentação” (Versão de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman). Eu me lembro de quando fui exibir um filme em cópias de 16mm no Colégio Santa Rosa por volta de 1958. Fui para ver a minha namorada, Luzia, aluna do internato. Levei comigo Orlando Costa, então dirigente do Cine Clube “Os Espectadores” e o filme “Amanhã Será Tarde Demais”de Luciano Emmer, premiado em festivais. Dezenas de jovens aplaudiram Pier Angeli fugir com o namorado. Mas o interessante foi um debate após a projeção. Perguntei qual o filme que elas preferiam dentre os recentes estreados nos cinemas comerciais. Foi um coro: ”Sublime Obsessão”. O ator que elas admiravam: Rock Hudson(não sabiam que o ator, por sinal um notório canastrão, era homossexual). Um escândalo para os cinéfilos projecionistas. Na época o filme do diretor Douglas Sirk era considerado de tremendo mediocre. Hoje é elogiado desde que um francês adepto da “nouvelle vague” escreveu amável citica na revista “Cahiers du Cinéma”. Mas a explicação para a preferência foi puro extrato de romantismo. Ou de uma sexualidade fechada forte nos preceitos religiosos que faziam o roteiro de casa e colégio.
Rever os melodramas antigos é muito interessante se a gente pensar na plateia que movia esse lado da indústria cinematográfica. As meninas da classe média aplaudiam o que saía de Hollywood. As menos favorecidas ficavam com os mexicanos que seguiram o clássico “Pecadora”(1948). Mas qualquer garota gostava de bolero. E os boleros traduziam o potencial romântico de cada uma. No festival de agora há um titulo que marcou a historia do próprio Olympia:”Amar foi minha Ruína”. Quando este filme estreou as cópias que chegavam à Belém eram quase sempre deterioradas e as interrupções de projeções eram constantes. Os vereadores que estreavam uma câmara ausente no tempo da ditadura Estado Novo queriam fechar o cinema se continuassem os intervalos. Eles não entendiam que a culpa era das cópias. Nesse tempo o “seu Chico”, revisor da empresa proprietária do casa exibidora, fez trabalho de relojoeiro na cópia que chegou do nordeste caindo aos pedaços. Conseguiu que passasse sem acenderem as luzes no meio da sessão. Vitória. O filme é um dos raros melodramas sem “happy end”. Gene Tierney faz uma vilã pouco imitada e ficou celebre a sequencia em que se joga de uma escada, grávida, para perder o filho do odiado marido (Cornel Wilde). O melodrama fazia as espectadoras chorarem.
Esta resposta emotiva deu até samba.Nossa resposta aos boleros de Augustin Lara e seguidores. Um programa coerente na festa. (Pedro Veriano)
domingo, 21 de outubro de 2012
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