domingo, 21 de outubro de 2012

A MELANCOLIA DO IMENSO AZUL



Ousadia de associar a liberdade à morte de pessoas amadas rende filme intenso e humano Primeiro episódio da celebrada Trilogia das Cores, baseada nos ideais da Revolução Francesa, “A Liberdade É Azul” será exibido na próxima segunda-feira, 19, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Obra concebida pelo cineasta polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996), o filme é sucedido por “A Igualdade é Branca” e “Fraternidade é Vermelha”. Mas voltando ao “A Liberdade É Azul” (Bleu), temos Juliette Binoche dando vida a Julie, uma bela mulher que sobrevive a um acidente de carro no qual perde o marido Patrice, um famoso compositor, e a filha pequena. Traumatizada, perde a vontade de viver e tenta apagar os laços com o passado. É um filme sensorial que traz Kieslowski em plena maturidade. Atento observador dos paradoxos da vida, o polonês coloca personagens em encruzilhadas éticas e morais, no eterno dilema em viver uma vida apática ou morrer para aliviar a alma.
Mais do que palavras, são as delicadas imagens e a música erudita que transportam a narrativa. A música desse filme é algo a parte, com uma trilha composta pelo também polaco Zbigniew Preisner que é impactante fúnebre ao mesmo tempo. E vai além. Pelo fato do marido ser compositor, Julie se tortura com a encomenda de finalizar uma composição para o coro e orquestra que havia sido encomendada para o marido. E é nesse momento de criação que a dor nela se apaziga e dá lugar a uma lucidez. Julie começa a conhecer o trabalho dele e mergulhar na vida daquele que acreditava conhecer. Com a ajuda de um amigo que é apaixonado por ela, a jovem compõe uma música que ressalta as suas emoções e de um continente num momento-chave. A versão de Patrice da “Canção pela Unificação da Europa” é, de certa forma, um bálsamo para a mulher e para os europeus, por toda a dramaticidade e urgência que contém. Força das cores - Parece estranho pensar numa trilogia baseada nas três cores da bandeira francesa, e nas três palavras do lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) que prime pela humanidade de seus personagens sem abrir mão do teor político.
Mas essa era a marca do cinema de Kieslowski, que surgiu como documentarista e logo imprimiu seu estilo e ideologia em obras ficcionais. Contratado por uma emissora de TV ele ousou e realizou Decálogo, um filme para cada mandamento da bíblia, tendo como foco os conflitos morais e contradições humanas. Contemplativo, ele foi aprimorando a forma narrativa ao usar uma quantidade mínima de diálogos e apostar no poder e perpetuidade das imagens. Quando se fala em Kieslowski logo se pensa nas palavras sendo substituídas por uma poesia imagética. Realizados em 1993, 1994 e 1995, os filmes da trilogia das cores são os últimos da carreira do polonês, que acabaram o tornando famoso internacionalmente. Nela, ele conseguiu colocar todos os elementos que vinha aprimorando, utilizando as cores como ambientação psicológica e estética e abrigando temas e motivações correlatas entre os personagens dos três filmes, prova irrefutável da sua genialidade. (Lorenna Montenegro)

SERVIÇO:
Sessão ACCPA/IAP apresenta “A Liberdade é Azul”, de Krzysztof Kieslowski. Nesta segunda, 22 de setembro, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Endereço: Instituto de Artes do Pará (Praça Justo Chermont, 216 – ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.

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