sexta-feira, 8 de junho de 2012

"BRANCA DE NEVE" 2012


O modismo no cinema impera. Agora reciclam-se velhas histórias já tratadas em filmes de outras épocas. Depois de serem revestidos os monstros clássicos, da Criatura de Frankenstein a Drácula e ao Lobisomem, surge agora o conto de fadas (inclusive há este modo de tratar também em seriados da tv fechada). Logo depois de “Espelho, Espelho Meu”(2012) surge “Branca de Neve e o Caçador”(Snow White and the Huntsman, EUA, 2012) inspirado no que escreveram os irmãos Grimm.
O filme que está em cartaz internacional e esta semana alcançou o primeiro lugar nas bilheterias norte-americanas (e creio que também nas brasileias) marca a estreia do publicitário Rupert Sanders na direção. E não se pode dizer que não tenha sido auspiciosa. O filme é bem dirigido, conjugando efeitos digitais primorosos e conseguindo desempenho satisfatório de atores não muito afeitos a papéis densos. O que surpreende, e pode até gerar reclamações de antigos fãs do gênero, são as interferências na trama. O principal: Branca de Neve não espera que um príncipe a desperte de um sono produzido pela madrasta malévola. Quem lhe dá o beijo ressuscitador é o caçador que a mesma madrasta havia contratado para matá-la. Um tipo secundário no enredo dos Grimm que é promovido para dar ao conjunto uma feição moderna de “blockbuster de ação”.

Quem assistiu ao desenho animado da Disney, o primeiro longa-metragem dessa categoria, sabe apenas poucas informações sobre os pais de Branca, de como a mãe morreu e de como o pai encontrou a nova mulher, casou-se e acabou também morto. No roteiro de Hossein Amini, Evan Daughery e John Lee Hancock, a narrativa abre com a sequência em que a mãe da princesinha é picada pelo espinho de uma rosa e três gotas de sangue mancham a neve aos seus pés, com isso decidindo o nome da filhinha que está a nascer. E a criança acompanha a doença e morte da rainha. O recorte seguindo é ao pai guerreiro encontrando a nova esposa prisioneira de guerra. Evidencia-se então que ele foi morto pela mulher, que ela se tornou a rainha malvada tendo o irmão como seu ajudante em todos os sentidos.
No desenho, o caçador leva Branca de Neve para a floresta, mas tem pena de matá-la. E a fuga ganhava um tom de horror com as arvores tentaculares querendo abraçá-la. Aqui elas aparecem, mas os bichinhos que acordam a moça na concepção bucólica dos desenhistas de 1937 dão espaço para o caçador, contratado pela madrasta para matar a intrusa no seu governo e na sua beleza. Ele não só mudará de ideia como no original desde os Grimm, mas será o protetor e apaixonado pela personagem.

Também há um tom político na versão moderna. Branca compreende que é filha de um monarca muito querido por seu povo. Com o governo despótico da madrasta esse povo foi alijado. Há um sentido de revolta que a princesa, na fuga com o caçador, vai incentivar promovendo uma batalha pela invasão do castelo real e a deposição da rainha.
E os anões? Um deles morre numa luta com os guardas reais. Os seis restantes vão ajudar o exército rebelde a tomar o trono. São eles que levantarão a ponte que dá acesso ao castelo. Desta vez, os personagens não são nominados como na animação antiga nem guardam a simpatia dos primitivos Dunga, Dengoso, Mestre, Soneca, Atchim, e até mesmo do Zangado. São até mesmo tipos feios, amedrontadores no primeiro encontro com Branca de Neve. São vistos como parte do povo que é execrado pela Rainha má. 

O que se nota, neste exemplar reformulado do tema mágico dos Irmãos Grim, é uma versão político-guerreira de um povo que luta por sua independência das mãos de ditadores que, embora com certos poderes mágicos, não mais repercutem convincentemente sobre aqueles que esperam ganhar a liberdade. É como se você estivesse lendo a história dos conquistadores do século treze ou quatorze. Esse viés é interessante porque esplora uma nova legenda do belicismo clássico onde se encontravam vários heróis e heroinas lutando pela liberdade e a vida.
O filme tem uma produção luxuosa. A Universal apostou no sucesso popular. E deve estar satisfeita agora. A mim não pareceu que satisfaça a sede do imaginário infantil que os ancestrais da história promoviam. Mas, como eu disse, revela, do mágico, um recorte da realidade de um certo povo. (Luzia Álvares)

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