sábado, 10 de março de 2012

"O GAROTO DA BICICLETA" NO CINE ESTAÇÃO EM ÚLTIMOS DIAS

O pequeno Cyrill não se conforma em ficar retido num orfanato sabendo que tem pai vivo. Mas o pai não quer saber dele. Num consultório médico, ao procurar o apartamento onde o pai morava, ele vai esbarrar em Samantha, uma cabeleireira que passa a se dedicar ao seu problema e acabar assumindo a condição de sua tutora. Por causa do menino ela estremece a relação com o namorado e começa a viver um pesadelo quando sabe que o protegido se meteu com marginais e está cometendo pequenos delitos.
“O Garoto da Bicicleta”(Le Gamin au Veio) é um filme dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne e não o primeiro em que eles vêem a infância (há “Le Fils” e “A Criança”). Fugindo das armadilhas melodramáticas, mas sem desprezar as lições do neo-realismo que consagrou cineastas como De Sica, eles procuram tratar um drama social adentrando numa linha introspectiva, tentando com pouca musica incidental (apenas em um momento a 5ª de Beethoven) e câmera na mão dimensionar o garoto do titulo, apegado à sua bicicleta como presente do pai que não lhe ama e o relicário de seus dias menos dramáticos. Claro que o pequeno interprete, Thomas Doret, dá o seu show. Mas as honras eu acho que devem ser divididas com Cecile De France, aquela bela atriz que Clint Eastwood botou num tusiname em seu “Além da Vida”. Ela compõe a mulher decidida que prefere vestir a roupa de desamada a deixar escapar a chance de fazer alguém feliz (ou menos infeliz).
Um filme bonito, de linguagem acessível a todos, e com a quota de emoção perfeita para se sentir no cinema sem chegar ao choramingas de tantos dramas parecidos. (Pedro Veriano)

Mais um olhar dos irmãos Dardenne (Jean-Pierre e Luc) para a criança é o que se vê em “O Garoto da Bicicleta”(Le Gamin au Veio> Belgica,2010). Eles viram, antes, menores desamparados em “O Filho” e “A Criança”. A vez agora é de Cyril (Thomas Doret), abandonado pelo pai a quem adora sem ao menos um adeus. Inconformado, procura sair de qualquer forma do orfanato onde foi parar, em busca desse pai que para ele ainda está num velho endereço. Mas não é bem sucedido. E, na busca, esbarra numa cabelereira (Cecile De France) que espera uma consulta médica. O encontro é para o bem de Cyrill. A jovem chega a abandonar uma relação amorosa para conviver com o garoto rebelde por se sentir abandonado. E a opção mostra-se gradativamente sofrida quando ela sabe que ele encontrou um pequeno ladrão que se apossa de sua ingenuidade e agilidade. Diferente dos outros filmes, os Dardenne, desta vez, mostram-se otimistas. Entre muitas situações dramáticas eles abrem espaço para um caminho a seguir para o pequeno personagem. O último plano não fecha o destino dele, mas é promissor.
Garoto da bicicleta posto que o veículo é um elo de ligação com a imagem paterna. Cyrill encontra o objeto que o pai lhe dera e depois tomara (vendera) como chega a acha-lo na cozinha de um restaurante. Mas o papel desse pai se esvoaça quando o menino procura-o para dar a ele um dinheiro roubado. Não há nem mesmo uma repreensão pelo fato. O homem diz apenas: “-Não me procure mais”. A narrativa opta pela câmera manual com insistência, e prefere os planos próximos. Essa, aliás, é a métrica de uma linguagem introspectiva. E para isso exige bastante dos interpretes. Todos afinam com um trabalho exemplar que emociona sem apelar para clichês ou pieguice. Um filme excelente a ser visto e, certamente, aplaudido.(Luzia Álvares)

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