segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

MONIZ VIANNA(1924-2009)

Morreu no dia 31 de janeiro o médico e jornalista baiano Antonio Moniz Vianna , um dos mais festejados críticos de cinema no Brasil dos anos 50/60 e 70.
Moniz escrevia no “Correio da Manhã”, matutino carioca fechado depois do golpe de 1964 quando cedo atuou na oposição ao governo instalado no país. Era um critico que procurava ser sempre pessoal, usando de um estilo de fácil acesso ao leitor médio (aquele que não se vê como “entendido em cinema”) para defender posições alicerçadas na sua sensibilidade, no seu modo de ver a arte que tocava a sua sensibilidade.
Pode-se dizer que muitos críticos brasileiros formaram-se no modelo de Vianna. Até no modo apaixonado como ele defendia a sua visão de um filme. Ele era capaz de dizer que detestava o “cinema novo” brasileiro, que aqui “não se fazia filme, mas difilm”(Difilm era o nome da produtora do movimento, empresa de Glauber Rocha, de c Walter Lima Jr, e de outros nomes que saíram da coletânea “5 Vezes Favela”). Elogiava o western, seu gênero preferido, e tinha John Ford como o maior dos diretores. Também elogiava o cinema japonês de Kurosawa, as comédias sociais de Frank Capra, a produção britânica especialmente do Ealing Studio de Michael Balcon, exibia um grupo de cineastas preferidos, não tinha “pudor” em mandar alguns clássicos à vala comum e elogiar o comum que desejava jogar entre os clássicos (e hoje está acontecendo nas locadoras de vídeo).
Vianna não chegava a macular filmes básicos com as “bolas pretas” que alguns colegas tiravam da cartola à guisa de cotação (como Rubem Biáfora e Mauricio Gomes Leite). Nem jogava confeti à toa em cabeças coroadas. Sabia achar virtudes em obras toscas, aparentemente defeituosas.
Há pouco mais de 4 anos algumas de suas criticas foram publicadas em um livro com seleção organizada por Rui Castro: “Um Filme por Dia”(Companhia das Letras/2004) .Realmente Moniz criticava um filme por dia de 1946, quando estreou sua coluna de cinema no “Correio...” a 1973, no fim do jornal. Foi um largo período para analisar praticamente a história de uma arte. Lá esteve comentado o cinema mudo com as suas “escolas”, o falado com as dele, os novos de diversos países, as comunicações às vezes diretas da cinematografia com a política.
A ACCPA rende seu tributo de divida para com a persistência de Moniz Vianna. Pouca gente gostou tanto de ver filmes e de comentar filmes. Este prazer é o que norteia uma associação de cinéfilos, ou cinemaniacos, ou o nome que se dê a quem não sinta remorso, e sim prazer de passar boa parte da vida numa sala escura vendo uma tela iluminada.

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