quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Dois Filmes

Uma garota de 9 anos estuda em colégio de freiras mas tem os pais comunistas. Isto na França de 1983. Pai espanhol e mãe francesa apostam em Salvador Allende, o presidente socialista vencedor de uma eleição no Chile como um avanço ideologico. A casa deles é freqüentada por barbudos da esquerda, os mesmos que a babá da garota lembra como os responsáveis, comandados por Fidel Castro, de sua saída de Cuba.
“A Culpa é de Fidel”, primeiro longa-metragem de Julie Gavras, detêm-se na confusão que os pólos políticos fazem na cabeça infantil. Os pais proíbem que ela leia Mickey Mouse(“um camundongo fascista”) ou que freqüente as aulas de religião. Ela reluta. E não entende quando o pai perde emprego como a comida piorou, a casa diminuiu, a babá foi embora.
Uma delicada viagem pela psicologia infantil sem ranço clinico e sem demagogia de facções sectárias é o resultado de um roteiro enxuto saído da obra da italiana Domitila Calamai. A menina Nina Kervel-Bey lembra a Brigitte Fossey de “Brinquedo Proibido” e a Ana Torrent de “Cria Cuervos”.Presente em todas as seqüências ela faz o seu quadro de um tempo e passa para o espectador as contradições e as reações de quem começa a vida.
Valeu, como valeu “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, uma visão sem retoques de um ato de aborto com a repercussão que pode causar sem apelar para o melodrama. Em linguagem direta, sempre frio, o diretor Cristian Mungui fica em cima do muro (pró ou contra a interrupção de gestação) atirando pedras. Não há “moral de história”. Há a exposição de um caso dramático envolvendo duas mulheres: a grávida e sua amiga. Narrativa com travelling manual e câmera fixa, sem música de auxilio. Foi Palma de Ouro em Cannes. E por aqui muita gente perdeu e vai reclamar que não passa coisa boa. (Pedro Veriano)

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