quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Banda que Passou

A primeira imagem de “A Banda” (Sassin Gabai/Irael 2007) focaliza um microônibus que depois de receber uma carga se afasta lentamente. Sem mudar o plano vê-se seis homens fardados de azul com dragonas douradas, enfileirados na horizontal, bem no centro do quadro. Logo se sabe que se trata da Banda da Policia de Alexandria que foi convidada para tocar na inauguração do Centro de Cultura Árabe, em Israel, mas ao chegar ao destino não encontrou quem a recepcionasse. Em uma região deserta, vendo-se apenas um pequeno bar os músicos procuram informação com a mulher que dirige parece dirigir o estabelecimento, sabem que ali não existe Centro de Cultura Árabe (“nem israelense”, ela completa).
O roteiro do diretor Eran Kolrin quer dimensionar a solidão. Não é apenas um lugar solitário, um oásis no meio do nada. Também as personagens são solitárias. Tewfiw (Sasson Gabai), o maestro, traz a mágoa dos suicídios do único filho, a quem se mostrava despótico contribuindo para a atitude do já rapaz, e da mulher, que não suportou a tragédia em família. Dina (ORonit Elkabetz),a dona do bar, saiu de um relacionamento infeliz e busca superar o acontecimento garimpando emoções no deserto. Também há o jovem Haled (Saleh Bakri), rebelde a algumas ordens do maestro, e tipos que passam pela estadia da banda (uma noite) como o rapaz que espera no telefone publico que a namorada lhe procure ou o tímido que não sabe como achar uma garota numa festa.
Raras vezes a cenografia se enquadra tão bem na perspectiva intimista. Lembro que Antonioni era mestre nisso, usando planos “contre-plongée” de prédios nos longos passeios de Mônica Vitti, afinal o modo de dimensionar o que na época se chamada de “coisificação do ser humano”. Pois aqui, Eran Kolrin usa o “décor” e o enquadramento. São muitos os planos abertos, como a utilização da luz perfazendo quadros em que o objeto iluminado está cercado por espaços escuros.
Um filme de baixo orçamento de metragem mínima para um “longa”, e sem estrelas adiante das câmeras. Afinal um exemplo de se fazer cinema também do meio do nada. De aplaudir. (Pedro Veriano)

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